26 de julho de 2011

Mongólia–Expedição

Pensámos em nada escrever mas, apesar das imagens valerem mais que as palavras neste país de sensações, algo ficaria por dizer. Estamos agora de arrancada de Ulan Baataar, uma cidade que após as grandes comemorações do Nadam e num sábado cheio de sol, nos pareceu mais bonita e interessante, será o encanto da despedida? Estivemos 10 dias em passeio pelo sul e sudoeste da Mongólia, visitámos vários locais de interesse local e internacional.

Começámos a aventura com um furo! Algo já esperado olhando para o estado do pneu que utilizávamos. O pneu substituto apresentava pior aspecto mas era o único que tínhamos. IMG_4409O macaco era inexistente e a nossa sorte foi o solo macio em que nos encontrávamos. Naturalmente esta situação é muito comum nestas aventuras e apesar das várias “falhas”, Noya (o nosso guia) e Ganbat (o nosso motorista) nem estremeceram. A atitude dos Mongóis revelou-se, para nós, um misto de um desleixe relaxado, uma despreocupação profissional e uma preguiça generalizada. IMG_4921Este povo, que ainda sofre com a ocupação chinesa, tem a certeza que desses vizinhos nada quer e tudo é mau. Dessa forma, adoptaram o cirílico como  escrita oficial deixando cair em desuso os seus belos traços árabes e a orientação chinesa. Adoptaram essa escrita como forma de afirmação e ligação a uma Rússia decadente. Não aceitam a filosofia de desenvolvimento chinesa, preferindo o estagnar russo que viemos observando à medida que avançámos cada vez mais por essa Rússia adentro. Desta feita, a cidade de Ulan Baataar apresenta-se como uma capital que cresce mas não se desenvolve, em que os prédios nascem mas não se usam e onde as regras não existem a não ser a do salve-se quem puder (sempre a buzinar). Parece que ninguém quer trabalhar (muito) a não ser no turismo e, mesmo no turismo, a lei do menor esforço com alguns lucros é que reina. Este comportamento é também uma forma de protecção das raízes e costumes Mongóis, uma forma de afirmação do que é ser nómada, guerreiro e livre. Preferível o semi-estagnar Russo ao super-desenvolvimento Chinês. Como povo, veem o futuro no que o país tem para mostrar! Uma imensidão de terra, com pessoas genuínas a viverem nos seus Gers com as suas tradições e os seus rituais. Famílias nómadas com um painel fotovoltaico, um plasma e parabólica onde a mãe pede ao filho um favor e este, colado na televisão, imediatamente acode ao pedido sem um já vai ou vai já. Galgámos quilómetros e quilómetros, vimos paisagens que vão desde o mais seco e árido ao mais vivo e verde (ver post anterior). IMG_4542Certamente muito nos falta deste país maravilhoso mas em termos de pessoas, estilos de vida e gastronomia, creio que conseguimos “recolher” um bom bocado de tudo. Começámos por falésias, de rocha, coloridas ou “dos dinossauros”, que nascem e morrem no meio de enormes estepes, ora num verde vivo, ora num castanho seco. Acampámos e comemos em lugares onde ver ao mesmo tempo o pôr-do-sol e o nascer da lua foi-nos possível. Respirámos o mais puro dos “ares”, sentimos os melhores (e os piores, inclusive o nosso) dos cheiros e vimos a mais bela das luzes estampada nas montanhas, montes e dunas. Fomos a um parque natural onde o gelo ainda persiste em meados de Julho, outro onde uma cascata de 20 metros dá origem a um enorme rio cavado no meio de planícies que ligam montanhas e fomos, também, à maior duna de areia da Mongólia. Custou mas chegámos ao cume!

IMG_4838IMG_4823A nossa expedição concentrava-se no Deserto do Gobi mas que, na realidade, é mais que um deserto. É de facto uma zona seca, com pouca ou nenhuma gente, mas que não é composto apenas por areia. Vimos e vivemos vários cenários, com várias companhias e sempre com uma sensação de unicidade impressionante. Durante este tempo tivemos a companhia do Noya, Ganbat, Mohammad, Rita e mais dois penetras durante 3 dias. Ao sairmos para a expedição já sabíamos que o casal Iraniano IMG_4715nos deixaria ao fim de 6 dias, o que não sabíamos é que iríamos dar boleia a um sul-coreano com a sua concubina mongol até que os “expulsássemos”. Na realidade, apenas lhes pedimos um valor (sugerido por eles) algo exorbitante (lançado por nós) para que pudessem terminar connosco o trajecto. Talvez não tivesse sido a mais inocente das atitudes, mas o convívio com este casal verificou-se nulo durante o tempo que não existiu e dessa forma seria apenas menos espaço que teríamos na carrinha até final da expedição. Por outro lado, uma vez mais o convívio com Mohammad e Rita foi impecável. Muita partilha, histórias de viagens, negócios possíveis, assuntos passados e futuros. Duas pessoas que já marcam esta viagem, assim como G-Shock Im. Companheiros de aventuras dentro desta aventura. Descobrimos a flora e fauna da Mongólia, a “sua” admiração pelos cavalos e um número incrível de gafanhotos, sapos ou falcões, dependendo da zona onde andávamos. Um monumento imenso em homenagem aos cavalos de corrida, aparentemente no meio de nenhures e ao qual acorreram uma vintena de pessoas nos 15 minutos que por lá andámos. IMG_4885Vimos saltar-nos aos pés milhares ou milhões de gafanhotos enquanto passeávamos a pé pelos vastos campos, montanhas ou desertos. Sobrevoaram sobre as nossas cabeças falcões como nunca antes tínhamos visto. Chegaram a ser 15 por cima de nós! Para além destes animais que se tornaram vulgares, pudemos observar águias, cabras, cavalos selvagens, camelos, veados, ratos do campo e marmotas. Nada de especial quando comparado com o Norte, segundo nos disseram. Foi uma experiência única mas não irrepetível. Queremos voltar! Talvez ainda demore uns anos, talvez numa outra estação e com outra preparação, mas voltaremos! Dos vários espaços e momentos, destacamos uma cavalgada no parque natural das cascatas, onde conseguimos tomar um belo banho natural (após 7 dias de pó e mais pó), usufruir da paisagem e passar dois dias a descansar. Comemos sempre bem, quer em “restaurantes” quer refeições cozinhadas pelo Noya. Descansámos sem pressas e respirámos fundo vezes sem conta de modo a encher os pulmões com o que víamos e sentíamos. IMG_4530Como não podia deixar de ser, mais um furo no penúltimo dia e um outro no último dia, 20 minutos depois do pneu ter sido arranjado. Sorte, azar, destino, superstição? Segundo os mongóis, os cavalos fazem a viagem e as orações em torno de locais próprios à beira da estrada são fundamentais. Talvez o não termos partilhado esse sentimento e essa crença? Talvez simplesmente a preguiça Mongol para ter bons pneus e permitir este charme aventureiro?

Foi uma experiência inigualável e que já deixa saudades na partida para a fronteira chinesa. Saímos de Ulan Baataar às 20h e chegaremos pela manhã à cidade fronteiriça de entrada na China. Ficaremos por Datong antes de rumar a Pequim. Adeus Mongólia, até ao nosso regresso.

IMG_4696

4 comentários:

  1. Valeu a pena esperar!!! Mantem-se o encanto desta viagem colectiva que vamos fazendo através de vocês. "Conhecemos" agora a Mongólia e os mongóis. Esperamos para conhecer a China e os chineses!

    ResponderEliminar
  2. A mongólia sempre me fascinou por 2 aspectos: a Natureza e o povo/costumes. Deu para ver que conseguiram conhecer e usufruir dos 2 e espero que vos tenha enchido o olhar e a alma e que depois no passem um pouco de tudo isso.
    No outro dia tava a comentar que esperava que montassem enquanto tivessem por ai e fico contente de o terem feito. Espero que tenham gostado e que vos tenha permitido sentir ainda mais esse(s) lugar(es). Beijinho e boa continuação ;)

    ResponderEliminar
  3. Que longa espera de notícias. Ainda não consegui ler com calma os relatos todos.Estamos de férias em Melides,mas não queria de dar um abraço a vocês. A avó diz que as vossas aventuras são extraordinárias e está muito contente. Amanhã envio as minhas apreciações. Segue a China?
    Bjs
    Tia Isabel, Maria, Miguel e Sebastião de férias na praia

    ResponderEliminar
  4. Voçês são grandes! Um abraço forte aos dois e boa continuação.

    José Eduardo Real

    ResponderEliminar