3 de julho de 2011

81/87 Horas

Esta maratona está quase no fim, o tempo deixou de passar e agora esperamos apenas pela saída do comboio. Foram dias e noites intensas, sem banhos ou ar puro, à excepção de paragens fugazes no meio da Rússia. Momentos de convívio com locais, passantes e estranhos conhecidos. Houve alturas onde foi complicado gerir este espaço dentro das nossas cabeças, alturas de um certo sufoco sempre em andamento e sem decisões ou alternativas possíveis. Contudo, uma missão cumprida e com grande prazer pela aventura que se desenrolou. Várias refeições foram tomadas ao som e movimento deste cambalear contínuo do comboio, muitas conservas, noodles, fruta, café, cereais... Muita leitura também, deixo três frases vindas do livro que leio, de que gostei particularmente. "Numa viagem assim, quem chega nunca é quem parte", "... mais uma história onde o amor não é o ponto de partida mas o de chegada." e "O mundo é um imenso livro do qual aqueles que nunca saem de casa leêm apenas uma página." Também neste livro são relatadas viagens, feitas sempre por terra, sem aviões nem pressas. São estes trajectos feitos em compassos largos que nos permitem reflectir e recordar. Existe algo de misterioso nestas deslocações, uma observação mais atenta e cuidada do que nos rodeia, pessoas, paisagens e atitudes. Descobrimos que em cada russo há um sorriso, por detrás de caras fechadas e sisudas por detrás de caras fechadas e sisudas, por vezes muito dificil de arrancar. As pessoas mostram-se interessadas mas olham-nos com desconfiança e como se fossemos animais de jardim zoológico. Sentimo-nos observados como nunca antes. A paisagem foi-se alterando mas as fábricas abandonadas, pertencentes a um outro período, revolução ou país manteêm-se desde que largámos Moscovo. Também as casas de madeira com ar acabado, meio abandonadas e onde habitam russos do interior, do campo e com poucas posses são uma constante. Uma outra realização neste trajecto é a percepção de uma Rússia outrora áustera e próspera, enorme e diversificada que agora se encontra concentrada em algumas pessoas e cidades. Uma nação que com toda a sua área, a soube aproveitar em tempos mas que se deixou apodrecer por dentro e sem qualquer estima pelo atingido. Talvez daí a desconfiança e as caras cerradas das pessoas que nos olham como estrangeiros aventureiros e loucos. Para eles não é fácil compreender o nosso interesse por esta viagem, nem por eles mesmos. Para eles nada disto faz sentido. Quanto mais tempo temos para pensar nisso, mais certos estamos de que tem valido, vale e vai sempre valer a pena.Estamos agora a escassas horas do destino final, queremos um banho e um pouco de higiene. Estamos algo amassados de tanto tempo dentro do comboio, mas felizes e realizados pela travessia desta imensa Rússia.

3 comentários:

  1. A viagem é também uma visita a tempos passados e à história que os povos carregam. Mas é admirável a capacidade das pessoas para se relacionarem e naturalmente se compreenderem mutuamente.
    Uma viagem como esta é uma lição de humanidade e aceitação das diferenças para quem está disponível.
    Beijos e boa continuação

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  2. ...E todos nós vamos "bebendo" muito para a nossa própria satisfação

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  3. facam ai uma prospecao de mercado p ver se encontram mais izmailovs!! diz q precisamos de mais dez!! grande abraco aos johns e divirtam-se cm se n houvesse amanha!! maria andrade power!!!

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